O reino do Preste João representa um dos horizontes escatológicos
do Ocidente cristão no final da Idade Média.
Na sequência da expansão muçulmana do século XVI,
o rei etíope procura aproximar-se dos estados cristãos do Sul da Europa.
Busca, nomeadamente, o apoio dos Portugueses
que haviam chegado por via marítima à costa oriental africana,
espaço que havia, durante séculos, ficado reservado
aos mercadores árabes e arabizados.
Apesar da declaração de unidade que Roma
e a Igreja Copta assinam em 1442, os clérigos portugueses
que recebem o embaixador etíope que chega a Lisboa em 1514
desconfiam da existência de práticas heréticas entre a população etíope.
Desde esta época, os missionários católicos irão partir
para a Etiópia com o propósito de reconduzir à " verdadeira fé
a cristandade etíope, que manifesta influências judaizantes –
guardando o sábado e praticando a circoncisão.
Inácio de Loyola entusiasma-se pelo projecto
de conversão do reino etíope, já que considera que o sucesso
será fácil porque as faltas cometidas por aquele povo
não se devem à malícia mas à ignorância.
Mas o sonho de sucesso dos primeiros jésuitas
não resiste à realidade da distância cultural :
o reino permanecerá por isso um reino sonhado, até inícios do século XVII.
O objectivo do presente livro não é de reescrever a história
das missões jesuitas na Etiópia, nem de se debruçar sobre
a "união" éfémera da Igreja étiopica com Roma.
É antes o de reavaliar o "fenónemo" missionário,
abordando as politicas de conversão, tanto do ponto
de vista externo como interno: trata-se de apreciar o impacto
das representações europeias sobre a Etiópia cristã
nas estratégias do contacto e da conversão,
e proceder a um estudo concreto da politica jesuita
posta em acção no terreno etíope.
Esta análise põe em evidência a importância
do complexo relacionamento estabelecido entre os Padres
da Sociedade de Jesus e o poder real etíope assim
como as dinâmicas que dele derivam, e permite contextalizar
as lógicas próprias aos vários intervenientes.
Rejeitando a tradição da perspectiva apolégica na análise histórica,
esta obra oferece ao leitor uma nova forma de questionar
a história das relações entre a Europa e a África.



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